Um novo termo lexical precisa ser traduzido para português: "astroturf movement".
"Astroturf" é o gramado artificial que tem nos estádios de futebol nos
EUA. Quando os americanos falam em "movimentos de raiz", falam em
"grassroots movements". Ou seja: "Movimentos [que crescem] dos raízes do
gramado." Portanto, um "mov
imento astroturf" é um movimento de raiz falso, artificialmente criado e mantido.
Obama e seus oponentes foram acusados de utilizarem tais movimentos em
ambas as eleições de 2008 e 2012. E, em 2010, foi revelado que o
National Security Agency , a CIA e o FBI estavam mantendo seus próprios
grupos "astrotruf" na internet.
Em 2008, quase nenhum
brasileiro sabia quem era Anônimo. Lembro tentando explicar o fenômeno
para meus colegas na ABA e na BRASA daquele ano e todo mundo me olhando
como se eu fosse maluco. O Brasil, a meu ver, está uns 2-4 anos atrás da
crista da onda nesses desenvolvimentos. Nossos primeiros grupos
astroturf só sugiram na última eleição presidencial e, mesmo assim, não
impactaram na consciência pública de maneira decisiva.
O que
estamos vendo agora, nas teorias conspiratórias que cercam o atual
crise, é a percepção, em massa, que a internet de fato abriga todos os
tipos e todos os movimentos. É bastante difícil para alguns de meus
colegas - particularmente aqueles que tem orientação nacionalista e/ou
socialista - entender como essa nova meio ambiente política funciona.
Encarando o que lhes parecem como caos, eles recuam em favor dos antigas
teorias políticas e sociais de sua criação.
O fato, porém, é
que quase todo mundo está fazendo isto no Brasil hoje: direita, esquerda
e os apolíticos. É, enfim, uma espécie de reação fundamentalista
intelectual: em momentos de crise, agarra-se mais ainda nas dogmas de
sempre. Portanto, tem gente achando que tudo isto é complô da CIA... Que
é orquestrada pelos bancos multinacionais... Que é tudo complô da aula
reacionária das forças de segurança e as milícias... que é, de fato, uma
conspiração bem pensada do Comando Vermelho.
Enfim,
conhecendo-se a posição política "tradicional" (quero dizer, na tradição
da política dos últimos 40 anos) de um brasileiro hoje, você conhece
qual vai ser a sua teoria conspiratorial sobre as manifestções.
O que ninguém quer falar é que tudo isto pode ser uma simples efeito
colateral da democratização dos meios de comunicação em momento de crise
política. Estamos a frente de um novo ambiente político, proporcionado
pela internet e pela irrelevância crescente da mídia tradicional. Não
temos mais nenhuma "narrativa nacional" coesa sobre os acontecimentos
políticos do dia-a-dia e, nesta situação, conflitos localizados e/ou
setoriais podem explodir repentinamente em movimentos populares de
massa, dado certas precondições.
A Revolta dos 0.20 Centavos,
como a Revolta da Vacina no século passado, prefigura de forma inepta e
imperfeita as formas políticas urbanas que se instalariam durante o novo século . As formas antigas de fazer a política perderão, cada vez
mais, sua utilidade.
Os grupos que aprendem mais rapidamente a
se adaptar a esse novo meio ambiente político terão uma vantagem
fulminante nos próximos vinte anos.
Me preocupo que o time com
qual estou associado - a de direitos humanos, tolerância, e de uma
democracia que pensa em termos sociais - está mais preocupado com 1964
do que com 2014. Em vez de aprender como podemos operar nesse novo
ambiente, estão ocupados em lamentar a eliminação do velho.
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