Monday, May 11, 2009

Doc e Chick no século 21 (para os alunos de Tadeu, IFCS)

Hoje (sábado 5.12.2009), na secção de entretenimento do principal jornal da Filadélfia (The Philadelphia Enquirer), houve uma notícia que achei interessante para os propósitos de nossa aula.

Acontece que a Fundação Nacional Ítalo-americana e a Ordem dos Filhos da Itália na América (ÚNICO) estão em pé de guerra por causa de um novo “reality show” americano, Jersey Shore (“A Costa De Jersey”) que – de acordo com os zelosos defensores da comunidade ítalo-americana – é preconceituoso e que propaga uma imagem de “violência e comportamento criminoso que cria um estereótipo marginal dos ítalos-americanos”.

Como todos os shows de realidade (pense em Big Brother Brasil), Jersey Shore concentra nas aventuras e desventuras de um grupo de jovens que, regado a cerveja, festas e sexo, vive sendo filmado pela a MTV, 24 horas por dia. O diferencial desse show é que ele acontece na praia de Nova Jersey (uma espécie de Piscinão de Ramos americano) e é protagonizado quase exclusivamente por jovens americanos de descendência italiana. De acordo com André DiMino (o presidente do UNICO e uma espécie de Chick Morelli do século XXI), os garotos representam “uma vergonha para si mesmo, suas famílias e sua herança italiana”. A organização é principalmente preocupada com a utilização do apelido “Guido” pelos jovens para se auto-rotular. “Guido” é um termo semi-pejorativo para ítalo-americano, cujo contraparente mais próxima na língua de Camões seria, talvez, “carcamano”. De acordo com Sr. DiMino, o uso desse termo representa uma ofensa para os ítalo-americanos e deve ser censurado.

Os jovens protagonistas do show, é claro, pensam de outra maneira.

“Nasci e fui criado como Guido,” afirma Pauly D, um membro do elenco. “é um estilo de vida. Significa ser italiano, dar prioridade aos amigos, à família... usar gel nos cabelos e freqüentar salões de bronzeamento artificial. Enfim, tudo que é italiano.”

“Todo mundo tem seu estilo e atitude próprio,” afirma outro jovem, Mike Sorentino. “Sou feliz em ser o que sou e tenho orgulho da minha família, do meu bairro, da minha herança... Duvido que esses velhos [do ÚNICO] não devem ter bebido e caído na farra quando eram jovens também.”

A situação me lembra aquela retratada pela William Foote-Whyte em Sociedade da Esquina. Mesmo hoje, setenta anos após da primeira publicação do livro, o grupo étnico formado pelos ítalo-americanos vive uma divisão básica entre college boys e corner boys. De um lado, temos os “ítalo-americanos profissionais”, desejosos de uma inserção maior na sociedade circundante, mas também conscientes do fato de que sua base de poder nos EUA é a massa ainda etnicizada de “carcamanos” pitorescos, entendidos como “outros internos” pelos brancos, anglo-saxões e protestantes que ainda dominam a vida política e econômica nesse país. Pelo outro lado, temos os “guidos”: jovens operários oriundos dos bairros urbanos ítalo-americanos, que são conscientes de sua etnização, mas confortáveis com esse processo, não rejeitam os estereótipos, se afirmando neles.

Neste sentido, então, a batalha entre UNICO e os “guidos” resume um dos grandes dilemas da vida urbana, retratado por nós na aula: a contradição entre a segregação promovida pelo espaço urbano e a grande mobilidade entre os universos de significação que também é característica marcante da cidade. Os “guidos” se distinguem dos “WASPS” (brancos, anglo-saxões e protestantes), “negros” e “latinos” ao seu redor, possivelmente porque é uma maneira de se sobreviver de forma anti-anomica nas grandes cidades americanas. Todavia, e como os líderes do UNICO sabem, a ascensão social neste espaço também é condicionado pela capacidade de ser reconhecido como cidadão comum e não como estereotipo étnico.

É sobre essa condição dupla da cidade que nossa primeira opção para o trabalho final deve versar.

Utilizando A Sociedade da Esquina e as outras obras lidas durante curso (mais particularmente os artigos de Simmel, Wirth, Davis e Abreu) como subsídios intelectuais, analise três filmes que retratam a questão de segregação e mistura nos espaços urbanos. Os filmes que podem ser assistidos incluem (entre outros, discutidos na aula):

Embalos de sábado noite
Noites violentas em Brooklyn
Desafio no Bronx
Faça a coisa certa
Amor sublime amor
Quase dois irmãos
Grand Torino
Crash

A segunda opção de trabalho é a seguinte: retirar três exemplos de histórias na mídia de “sexo problemático” (i.e. exploração sexual de menores, prostituição, tráfico de mulheres, turismo sexual etc.) e, utilizando-as leituras da aula, suas experiências de campo e as nossas discussões sobre dados quantitativos e qualitativos, criticá-las. Finge que tais histórias não são relatórios jornalísticos e são estudos sócio-antropológicos. Quais são alguns dos erros metodológicos e analíticos feitos por seus autores? Como poderíamos corrigir esses erros (i.e. com quais formas de pesquisa ou através de qual tipo de análise)?

Os trabalhos devem ser escritos em Time New Roman 12, espaço 1,5, e não devem ter mais que 10 páginas. Para serem entregues na ocasião de nossa próxima reunião no dia 17.