Thursday, January 19, 2012

Explaining the "Luiza está no Canadá" meme to your gringo friends...

Been hearing alot about Luiza (who's in Canada), from your Brazilian netacquaintences lately? My pal Regina at Deep Brazil can explain the meme to you:
"Instant Youtube success: Gerardo Rabello, a social columnist from João Pessoa, capital of the state of Paraíba, announces a new construction project and says it is so great that all the family will attend the launching ceremony, apart from his daughter “Luiza, who is in Canada”. The phrase, mysteriously, became viral. In only two days, dozens of “comments” and mockumentaries about it were published on Youtube."

The reason this meme went viral has little to do with the fact that Gerardo Rabello is bragging in an off-handed fashion about his daughter's international travels. It has to do with Brazilian cordiality and family values and also with Brazilian sarcasm when cordiality is taken too far.

Rabello is basically telling us that "Look, I'm putting my family's good name behind this project". This is a traditionalist, kitchy and smarmy sort of thing to do. Maybe it goes over well with the folks from Paraíba, but to the large number of Brazilians living in São Paulo and Rio (the dominant force on the lusophone internet), it sounds like a corny homily to 19th century values. The ad is thus irksome to begin with.

But then Rabello upped the already high smarm factor by explaining to us all why one of his daughters won't be attending this mighty social event of the Paraiban summer. As if we knew his children by name. As if we would wonder why we wouldn't see Luiza at the event. As if we all lived in the same tiny little backlands village or even knew who the hell Gerardo Rabello and his spawn were.

As if, in short, we gave a tremendous fuck.

Urbane, networked Brazil thus responded in false cordial style, dripping with fake bonhomie and neighborly concern.

Suddenly, we all needed to know where Luiza was. What she was doing? Was she eating well? Did she have a boyfriend yet? Was he Canadian...? We demanded that the government investigate why Luiza was still in Canada and worried whether the heartless gringos would deport her. (Certainly not Luiza! Such a nice moça de família!)

And, of course, we're all breathing a hearty sigh of relieved satisfaction now that she's come home to the pátria amada.

People who didn't get this meme or are taken it at face value as a form of instant celebrity manufacture don't understand the depths of Brazilian sarcasm when it combines with false cordiality. There's a reason why "cair na boca do povo" is understood to be a bad thing in Brazil.
The meme is also a good example of why memes become old quickly and how they warp (rather than evolve) into news.

The first folks reporting on Luiza's whereabouts were net nerds who had seen the original comme
rcial first-hand on You-Tube and found it corny beyond belief. They were making arch comments to their friends, who had also seen it. This is precisely the same sort of crowd who loves to wax enthusiastic about the Trololo Guy*. (You know, folks like this...)

Thus was the original iteration of the meme born and it was funny, if not hilarious.

Then legions of script-kiddies and Brazilian adolescents who fancy themselves to be Anonymous got ahold of the meme and started spamming it into everything, making old meme very old, very quickly.

Following this, the Brazilian NORPS** saw the script-kiddies' net graffiti, wondered what was up and had to have everything explained to them. This effectively killed any remaining humor that the meme once had.

Finally, the Old Media got ahold of the Luiza story. The Old Media speaks to people who hardly use the internet at all and whose understanding of memes is on the level of a flatworm's understanding of brain surgery. The only framework the Old Media has for dealing with this sort of thing is to treat Luiza as some sort of minor instant celebrity. And that, friends, is precisely how Globo is dealing with this little bit of internet arcana right at this very moment.
 

*If you don't know who the Trololo Guy is, remember: there is no such thing as brain bleach.

**NORP = Normal, Ordinary, Responsible Person. The vast majority of internet users who go on-lin
e simply to check e-mail and send each other pictures of their cats - see expanded definition here.


Monday, January 16, 2012

O Caso Big Lixo Brasil 12

...por Ana Paula da Silva

É com grande horror e espanto que estou acompanhando no que se tornou a grande polêmica  do momento: o caso em que, supostamente, um integrante masculino abusou de uma "sister" debaixo dum edredon.

Bom, sou daquelas pessoas que compartilham a opinião que reality show não passa de um lixo eletrônico, da qual me recuso a dar audiência. Mas também concordo que não se pode condenar quem assista e ache bom. O conceito do que é bom ou ruim é bastante relativo. Pode soar como um clichê esta frase, mas acredito que faça todo sentido relativizar, em meio ao absurdo que se transformou esta polêmica.

Soube do suposto estupro pelas as redes sociais e, apesar de não assistir ao programa, acessei o vídeo em que os mais exaltados afirmam ter evidencias de um estupro, sem que ainda tenha havido, uma análise técnica das imagens. É o seu olho e sua imaginação funcionando naqueles sete minutos. Confesso que mal consegui distinguir quem era quem no vídeo, já que as imagens foram captadas no escuro embaixo de um grosso cobertor. Bom, os mais radicais podem justificar que minha internet não é boa e a imagem que eu recebi estava turvada. Pode ser. Todos os que estão alegando que de fato houve estupro aparentemente tenham visto algo que eu mal consegui distinguir acontecendo entre um homem e uma mulher naquela cama.

O que me espanta e me horroriza de tudo isto – e acredito que esta atitude deva ser motivo de punição para a Rede Globo – é sugerir que tal cena seja exposta na TV, mesmo que em canal fechado. Agora o que me espanta mais ainda são as opiniões diversas das pessoas. Desde os machistas (“Ela bebeu, queria o que?”), até os que já defendem prisão e – porque não? – o linchamento do “estuprador” Daniel. Parece que até estamos relembrando os velhos tempos em que homens negros eram acusados de estupradores de mulheres brancas e, portanto, mereciam serem linchados baseados só e unicamente na acusação e não em provas concretas.

Toquei no que acredito ser um drama construído neste evento. Um homem negro, jovem, modelo e uma mulher branca jovem, modelo estão neste programa em busca de fama e sucesso instantâneo e aceitam se transformar nos próximos meses em bichos enclausurados, onde recebem comida e boa vida em troca de fazerem graça a um público ávido em ver situações grotescas e de mau gosto em que se envolvam. Enfim, reality shows se transformaram mundo afora num sucesso de público e no Brasil não é diferente.

Já que sabemos – ou devemos saber – estes programas sofrem pesadas interferências na hora em que são editados. Ler esta reportagem, por exemplo, que discute alguns dos truques mais comumente utilizados para dar mais emoção a esses shows....

Devemos pensar, particularmente, em  como os editores  constroem estereótipos dentro dos quais encaixam os participantes. Pelo que andei apurando, Daniel já estava sendo colocado pelos editores do BBB como o garanhão e pegador, quase um tarado que corria atrás das mulheres da casa. Você não precisa saber muito sobre a história de raça e gênero em nosso país para entender porque ele foi personificado assim. Outra menina no show já teria comentado que Daniel a bolinou em outro momento. Ou seja, nada mais natural do que alimentar o imaginário que existe sobre homens negros: máquinas sexuais incontroláveis que são capazes de transar até com uma mulher aparentemente inerte, bêbada, depois de uma festa regada a álcool. Quem acha que o conteúdo “raça” deva ser retirado da análise deste drama realmente não entende como o racismo funciona neste país.

A situação deve ser analisada de uma maneira um pouco mais complexa do que os sete minutos de vídeo editado pode mostrar. Simplesmente apontar vítimas e algozes neste caso infeliz, baseado só e unicamente num vídeo que já tem passado pelas mãos de editores cuja principal tarefa é fazer o público  delirar é, no mínimo, prematuro. Acredito na irresponsabilidade da emissora em explorar uma situação destas, mas discordo daqueles que tratam o caso como se fosse absolutamente factual, uma situação realista em que estivéssemos assistindo uma festa com pessoas “normais”, numa situação normal, em que uma menina é embriagada e depois sofreu abuso sexual. Há que se ter cuidado sobre os fatos, pelo menos até que haja uma análise técnica de TODAS as imagens captadas pelas sempre presentes câmeras da casa BBB.

Não houve sequer uma análise pericial do vídeo para se saber o quanto de edição e montagem há nele.  Neste momento, as pessoas estão assistindo e acusando baseado numa imagem editada da Rede Globo – emissora que tem longa história em manipular  a opinião pública através de imagens adulteradas e, as vezes, francamente falsas. Estou impressionada com a repercussão que essas imagens têm feito nas redes sociais e com o alto grau de veemência que está sendo direcionado a Daniel sem ainda sabermos nem a metade dos fatos do caso. Se  Daniel for revelado como estuprador, então acho que deve ser punido. Mas conhecendo bem a história da histeria social em torno da sexualidade masculina e negra, acho que devemos insistir numa apuração total e competente dos fatos do caso antes de gritar a favor pelo linchamento do rapaz.

Outra coisa que me assusta é a insistência de que  Monique há de se reconhecer como vítima de estupro. A mulher não teve domínio sobre seu corpo antes do evento, durante o evento e agora também não tem direito sobre ele depois. Parece que seu corpo agora pertence a um coro de pessoas que só conhece a situação por via de internet e que querem acreditar piamente que um abuso aconteceu e aos “machistas” que  argumentam que  Monique merecia qualquer violência que poderia ter acontecido. Ninguém de fato quer ouvir Monique. Ela deve se conscientizar que é uma vítima ou uma vagaba e não pode ter mais alguma opinião sobre o caso. Muito menos devemos dar ouvidos a Daniel, pois este é um estuprador já condenado e linchado pela a opinião pública. Este episódio nos revela o quanto há de moralismo e racismo na discussão sobre gênero e violência no Brasil.

Soube neste momento que Daniel foi expulso do programa sem que se tivesse nenhum tipo de apuração legal sobre os fatos. Gente: essa é uma questão LEGAL e não um concurso de beleza. Se os fatos comprovarem que  Daniel, de fato, teve relações sexuais com Monique enquanto ela estava inconsciente, então ele é um estuprador e deve responder por seu crime. Se, uma vez que todos os dados estão apurados, não tiver evidência que um estupro aconteceu, então porque expulsá-lo do programa?

Continuo acreditando que este país  acredita em acusações de bruxaria e este fato é simplesmente assustador para uma nação que se diz democrática. Cadê as evidências? Ou vamos continuar vivendo num Brasil onde as emissoras de televisão determinam a culpa e a inocência? Não sei o que assusta mais: o fato da Rede Globo ter criado uma situação esdrúxula como entretenimento ou as pessoas acharem que essa situação pode e deve ser resolvida na base da histeria coletiva.