Saturday, February 18, 2017

“Squeezing the 'Juice'”: O Povo Contra O.J. Simpson como Crítica Interseccional




O.J. Simpson no filme Firepower, ca. 1979.

Essa semana terminei de assistir a série “O povo contra O. J. Simpson”. Admito ter  tido certo preconceito em acompanhar o seriado. Comecei acompanhando na casa de uma amiga que já tinha ouvido falar sobre o seriado e terminei fascinada em minha própria casa. Por causa de minha pouca interação com o que está na moda, acabei não me dando conta desse show e fiquei ainda mais com o pé atrás, quando soube que foi indicado para diversos prêmios e ganhou muitos desses.

O elenco também não me animava: todos oriundos de blockbusters com exceção de alguns que, confesso, realmente gosto. É preciso dizer que eu estava muito enganada. O seriado me fez pensar profundamente numa palavra que se tornou moda, mas que tem sido mal utilizada por parte de diversas militâncias brasileiras: a interseccionalidade.

Esse conceito surgiu (pelo menos formalmente) com a filósofa de direito e teórica crítica de raça, Kimberlé Crenshaw. Hoje em dia caiu na “boca do povo”, como diria minha avó. Como estudiosa do tema, entendo como é difícil e árduo o caminho para se fazer, de fato, uma análise interseccional. Acredito que essa categoria se compõe num desafio permanente de reflexão e análise de um dado fenômeno social. Acredito, que, quem acha ser esse um conceito fácil – um tipo de análise simples pela “soma das desgraças”, vamos dizer – geralmente cai numa armadilha onde o que se prova é a prevalência de uma ou outra categoria de análise para explicar a realidade social.

Quando terminei a série, procurei artigos críticos sobre os episódios e percebi que a maioria desses sempre destacou somente uma categoria para explicar o caso O. J. Simpson. Ou era raça, ou gênero, mas nunca uma reflexão sobre a complexidade de uma sociedade estruturada em torno de inúmeros eixos de identidade, preconceitos, e desigualdades que cria meandros sutis de discriminação e exclusão.

Optar por trabalhar pelo viés teórico da interseccionalidade é fazer escolhas em que a vida social não se reduz a apenas uma categoria explicativa. É pensar nos desafios criados pelas intersecções de categorias sociais e quais os seus efeitos reais dessas na vida como ela é vivida.

Para quem está lendo e não sabe o que é interseccionalidade, peço desculpas. Não sou a pessoa mais indicada para explicar, pois considero que continuo aprendendo e me desafiando em torno de ideias que, era uma vez certas, dados os meus estudos em gênero, sexualidade e raça. Tentarei definir, em poucas linhas, o que significa interseccionalidade, correndo certo risco de simplificar o conceito ao ponto de o transformar numa paródia de si. Em alguns contextos, é o estudo de como categorias de identidade se interagem para criar e/ou fazer desaparecer certas subjetividades.

Um exemplo disto seria o artigo em que Creshaw cunhou o termo, onde ela o aplica a um caso específico que estudava na época: ao de mulheres negras que diziam ter sofrido discriminação por não serem empregadas em certos cargos na empresa em que trabalhavam. A empresa alegou que não era racista, porque tinha homens negros trabalhando nesses cargos. Tampouco poderia ser considerada machista, porque empregava mulheres brancas nessas posições também. Era de fato, a combinação de negritude e feminilidade que excluía as mulheres negras dos postos, mas a lei só contemplava ações anti-racistas ou anti-sexistas. A empresa, portanto, ganhou frente ao tribunal.
Creshaw inventou o termo “interseccionalidade” justamente para rotular esse tipo de interação de categorias sociais, que fazem surgir ou desaparecer subjetividades. Ela salienta que casos como esses não podiam ser entendidos através de apenas uma categoria, mas só pela conjunção que o termo “mulher negra” evocava. A ligação entre machismo e racismo produzia outra situação, não menos desigual paras as mulheres negras, mas impossível de ser abordada utilizando uma só categoria social.

Sendo mulher e negra, estou numa condição diferente de um homem negro, por exemplo, ou de uma mulher branca. A mulher negra, nesse caso, é mais oprimida? Não necessariamente. No caso do Brasil e dos EUA, as mulheres negras estão em melhor condição do que os homens negros em várias categorias de análise, começando com a expectativa de vida. Os homens negros também têm menos escolaridade e maior índice de mortalidade violenta que as mulheres negras. Todavia, quando um homem negro vence todos esses obstáculos e disputa uma vaga de emprego com uma mulher negra, é bem possível que ele ganhe essa, não importando as qualidades profissionais da mulher, só pelo fato de ser homem. Intersccionalidade não é fácil de se entender – particularmente por militantes de movimentos historicamente viciados em vieses deterministas e reducionistas de explicação da realidade social – mas a teoria explica muito sobre as desigualdades que as sociedades capitalistas produzem nos dias atuais.

Voltando ao caso O. J. Simpson, para quem não estava viva e raciocinando na década de 90, (ou, para pessoas como eu, nada interessados nos fatos), era entendido por muita gente como o julgamento do século. Interessante como a não-presença das mídias sociais (ainda não inventadas nessa época) fizeram de um caso monumental como esses algo que as pessoas – pelo menos no Brasil – nem sequer ouviram notícias. A pessoa em questão, O. J. Simpson, é atleta aposentado, famoso e venerado no futebol americano (sim, aquele esporte que, ultimamente tem feito sucesso no Brasil). Negro, de origem humilde (essa parece ser a história de grandes ídolos de esportes nacionais, seja aqui, na Europa ou em Love-it-or-leave-it Land), chegou a acumular uma das grandes fortunas esportivas dos EUA.

Em 1994, porém, Simpson foi levado a julgamento por suspeita de matar a ex-mulher e seu amigo de forma brutal e cruel. O casamento de Simpson com sua ex-, Nicole, foi bastante conturbado, com históricos de abusos físicos e psicológicos por parte de Simpson a sua esposa, com muitas ocorrências de violência doméstica e múltiplas chamadas de Nicole para o famoso disque-denúncia EUAmericana, 911. Todo esse material foi utilizado de forma sensacionalista pela imprensa, que teve seu reality show jurídico patrocinado pelo acesso de câmeras ligadas 24 horas da sala do tribunal.


Simpson, menino-propaganda na auge de sua carreira.

Todas as pessoas em questão foram defenestradas: procurava-se podres de todos os envolvidos. Se você conhecia alguma daquelas pessoas que apareciam na TV durante o julgamento, foi a hora de tirar o pé do lodo e vender qualquer história ou desavença possível sobre elas.


A acusação acreditou piamente que as evidências do crime eram tão cabais e incontestáveis que era impossível não condenar o grande astro do esporte. Não levaram em conta, porém, o contexto e a representatividade daquele julgamento num momento sensível para os EUA e, particularmente, para Los Angeles, cidade onde o julgamento ocorre. Dois anos antes, L.A. sofreu um dos maiores tumultos raciais do Século XX, provocado pelo espancamento brutal do motorista negro Rodney King pela polícia municipal. Levar ao banco dos réus um homem negro, bem-sucedido, ídolo máximo nacional, e condená-lo passou a ser encarado, principalmente pela comunidade negra,  como a prova cabal daquilo que muitos já sabiam: os EUA é um país racista que considerava a população negra como menos-que-humana e, portanto, destituídos das proteções básicas concedidas pela lei a pela Constituição. Ou seja, o caso Simpson prometia ser uma ferida aberta numa nação escravocrata que, mesmo após a abolição, manteve  um regime de segregação racial legal e oficial em 13 estados (e extra-oficial em quase todos os outros). 

Cuba Gooding como Simpson, fugindo da polícia.



Consequentemente, muitas pessoas entendiam que o caso Simpson era mais um exemplo de um racismo institucionalizado, que comprovava que nem um milionário e celebridade negra poderia escapar do linchamento legal que os negros conheciam, de perto, nos tribunais de todo o país. Homens negros, por diversas vezes inocentes, ou que tinham praticado crimes menores, costumavam ser julgados como grandes criminosos, lotando a carceragem e os corredores da morte pelo país afora. Para você ter uma ideia de como é forte a institucionalização racial do sistema penitenciário americano, saiba que 36% dos presidiários nos EUA são negros, enquanto negros são tão somente 10-12% da população geral. Nem o Brasil tem índices de encarceramento tão racialmente injustas (embora estamos fazendo tudo para ficar a par com nossos primos americanos e até, em alguns casos (assassinatos extra-judiciais feitos por policiais) ultrapassá-los).
          
É nesse ponto que o nosso conceito chave de interseccionalidade entra no jogo.
            
De um lado a acusação contra Simpson foi composta por uma promotora pública, Marcia Clark: uma das mais brilhantes, com currículo bem-sucedido. Ela foi assessorada nisto por um assistente da promotoria, homem negro em franca ascensão na carreira: Christopher Darden. Do lado da defesa, constituiu-se um “dream team” (e é interessante notar aqui como a noção do esporte foi utilizada como estratégia de marketing para a defesa de O. J. Simpson) de advogados que incluía alguns dos nomes mais conceituados na época. No entanto, o mais notório dos advogados de defesa de Simpson foi  Johnnie Cochran, negro militante, ligado aos movimentos populares, que viu na oportunidade de defender um grande astro negro a possibilidade de denunciar um sistema historicamente racista e excludente. Não importavam os fatos, a história que Cochran buscava narrar era pôr em evidência toda a trama racial desigual sofrida pelos  afro-descendentes americanos desde a formação da nação.
             
O interessante da série de televisão que retrata esse caso é que foge dos estereótipos batidos  de mocinho e vilão, procurando construir uma narrativa dos interesses em jogo de cada personagem. Enquanto O. J. Simpson procurava se livrar da cadeia, cada um dos envolvidos também tinha um interesse específico no caso. A série focaliza na “desconstrução” da figura moral de Marcia Clark, que, segundo a imprensa e de boa parte da opinião pública, não era digna de ter uma responsabilidade tão grande no julgamento. Clark foi desqualificada de todas as formas possíveis, mas principalmente pelo fato de ser mulher. “Louca”, “vadia”, “durona” e “devassa” foram apenas alguns dos xingamentos utilizados para publicamente atacá-la durante o caso. Para piorar a situação, fotos de Clark fazendo topless numa praia foram divulgadas pelo seu ex- marido na grande imprensa americana.
             
No entanto, outros personagens envolvidos no caso não foram menos poupados. Darden foi massacrado pela comunidade negra por estar do “lado errado“ do caso. Os advogados de O. J. Simpson tiveram suas vidas devassadas pelas revistas de fofocas. E o próprio  Juice” (como Simpson era carinhosamente apelidado) teve todas as suas brigas conjugais e agressões domésticas reveladas aos olhos públicos pela imprensa. Marcia Clark foi, talvez, a que mais sofreu. Por ser a única mulher divorciada envolvida no caso, teve toda a sua moral sexual posta à prova. Não quero aqui, iniciar um “desgraçobol” (termo de Sérgio Carrara), para saber se mulher sofre mais que negro e etc. etc. etc., Aliás, o grande erro das análises que ando lendo sobre a série, particularmente as advindas de militantes, cai precisamente nessa armadilha.
             
Esse é o grande desafio que nos encara, sejamos militantes ou cientistas sociais críticos de sistemas institucionalizados de reprodução das desigualdades: entender como classe, gênero e raça, atuam de forma interligada na produção de exclusões e privilégios. O que é importante pensar no caso Simpson é como a desigualdade social é criada por víeis múltiplos e reforçantes numa sociedade que foi culturalmente e socialmente montada no padrão da Casa Grande e Senzala, e que sempre foi patriarcal e escravocrata, assim como Brasil ou os EUA. Tenho sempre dito, e algumas vezes escrito, que a experiência colonial americana não difere tanto assim da brasileira – que, por sua vez, não difere dás Américas. Mutatis mutandis, o padrão racista e sexista não produziu muitas diferenças radicais na extensão das terras colonizadas pela Europa durante os Séculos XVI-XVII. É mais uma questão de ênfase nesse ou naquele aspecto do que modelos completamente diferentes. Como meu parceiro gosta de afirmar: “É tudo, tipo, caixinha de bloquinhos Lego: pode construir barquinho, ou castelo ou trenzinho, mas quando você olha bem de perto, 'tá tudo feito com os mesmos bloquinhos de merda”.
             
A noção de um homem branco dominador, sábio, todo-poderoso e benévolo (ou absolutamente brutal; as duas características são, de fato, duas faces da mesma moeda) que manda em tudo e em todos é o modelo-mor de autoridade numa sociedade que se perpetua pós-abolição em toda parte das Américas onde a escravidão foi instituída. Isto é, justamente, o contexto mais profundo – diga-se de raiz – que precisa ser entendido no seriado O. J. Simpson. Toda essa estrutura quiriarcal está lá sendo reproduzida nas discussões sobre a culpabilidade do grande astro, a forma como a polícia tratou o caso, a maneira como Marcia Clark é desqualificada (a sinhazinha que se mete onde não é chamada), o negro da Casa- Grande, o negro que defende a Senzala, o bom branco que denuncia o racismo da sociedade americana, e – como sempre acontece, no caso do racismo estadunidense – os “lixos brancos” brutos e incultos, abertamente racistas, que são o bode expiatório preferido do racismo liberal/institucional. Essa figura aparecia na pessoa do policial Mark Fuhrman, acusado de empregar epítetos raciais e de plantar evidências falsas incriminatórias contra  Simpson (ironicamente, Fuhrman seria o único condenado do caso – hoje faz carreira na Fox News).
             
A série não é uma volta ao passado, ou apenas um testamento de que nada mudou desde os tempos coloniais (muita coisa, de fato, mudou): ela é uma exploração íntima do “caso do século” que vai muito além da análise uniaxial das categorias raça e gênero, geralmente utilizada para entender o caso Simpson.  Para o telespectador atento, O Povo Contra O.J. Simpson oferece uma aula introdutória em análise interseccional e como isto pode ser aplicado ao mundo real.
             
No último episódio, um diálogo maravilhoso (mas provavelmente fictício) entre os advogados negros (Darden e Cochan) ilustra outra categoria importante na análise dos fatos, que geralmente é ignorada pelos proponentes de análises uniaxiais do caso: a classe. Num último momento, Cochan chama Darden e lhe faz uma proposta de colaboração. Darden recusa e afirma que o grande objetivo de homens como Cochan, de absolver negros como o Juice”, era a manutenção de sua própria casta rica e bem-sucedida, que tinha a garantia implícita que os negros ricos não pudessem ser tratados como um “negro qualquer”. Os negros pobres e dos guetos continuariam a ser mortos e presos pela polícia, sem nenhum critério, independente, da absolvição de O. J. Simpson. Darden explica que a suposta preocupação de Cochran com a justiça racial, de fato, acaba reforçando a injustiça de classe que, nesse momento da história americana, começava a desunir a aliança negra que conseguia as vitórias das décadas de '60-'70.
             
Após desse diálogo, corta-se imediatamente para uma cena onde Cochan comemora a vitória da absolvição do Simpson com sua equipe e o Presidente Bill Clinton reconhece, em rede nacional, que o racismo é um problema sério na sociedade americana. No entanto, essa cena é emblemática, pois o governo Clinton foi o que mais endureceu as leis de encarceramento e colocou milhões de negros, não-brancos, e pobres na cadeia. Em 2016, o movimento Black Lives Matter”, que surgiu das denúncias de abusos policiais, compareceria num comício de campanha da então-candidata Hillary Clinton, pedindo a retratação das leis instituídas no governo de seu marido que criavam o encarceramento em massa das populações não-brancas.
            
Na cena, Cochan, regozija-se da vitória, afirmando ter atingido e colocado na boca do Presidente da República a palavra “racismo”. Mas o que isso efetivamente mudou nos EUA? É uma reflexão sutil, porém dolorosa, dentro de uma parcela dos movimentos negros da classe média e da elite, de que muitas vezes suas lutas não são as mesmas que a dos pobres. Esses últimos lutam para simplesmente sobreviver, enquanto os primeiros lutam para conquistar posições cada vez mais poderosas  numa sociedade racista, com a promessa de que, uma vez que eles alcançam o poder, tudo vai mudar (vide Barack Obama). Ambas essas aspirações são, de fato, legítimas. Ou que não são, necessariamente, é compatível ou reduzível uma a outra. Enfim, como aquele velho hippie Karl Marx nos alertou mais de 150 anos atrás, grupos sociais diferentes tendem a ter objetivos e interesses diferentes, de acordo com as diferenças em suas condições materiais de vida. Muitas vezes, os mesmos negros bem-sucedidos esquecem desse fato, aplicando uma “política da respeitabilidade” à comunidade negra como forma de criar distanciamento e, assim, distinção e status social.
             
Falando em termos de gênero, Márcia Clark não teve seu trabalho reconhecido. Largou a promotoria, passou a prestar consultoria, e a escrever romances, atividade no que obteve certo reconhecimento. No entanto, nenhuma autoridade política americana foi para TV reconhecer frente a nação as desigualdades de gênero, ou admitir que Clark foi massacrada ao longo do julgamento. Tudo muito natural para alguém que nasceu mulher. Nada mudou na forma como mulheres são vistas ainda hoje, fato que podemos reconhecer na última eleição presidencial americana, onde a candidata mulher teve todo seu passado sexual revirado enquanto seu oponente homem, que admitiu ser agressor sexual, não sofreu efeitos negativos significantes, nas urnas, por seu comportamento sexual abusivo.
             
Por último, quem sofreu uma degradação sem precedentes foi O. J. Simpson. (Aliás, é quase certo que realmente cometeu os crimes. Ele escreveu um livro em que descrevia como teria sido a cronologia do crime, caso tivesse matado a sua ex-esposa e o amigo.),  Juice” ganhou no processo criminal, mas não escapou a condenação civil. Teve todos os seus bens penhorados, perdeu sua fortuna e, em 2008, foi preso, acusado de roubo e cárcere privado por tentar recuperar relíquias de sua coleção pessoal, negociadas a um grande hotel-cassino em Las Vegas. Foi condenado a 33 anos de prisão, mas entrará com pedido de condicional esse ano, 2017. O triste da história é que, Juice, foi condenado criminalmente por atacar a propriedade privada, mas nunca, pelas mortes de sua ex-mulher, Nicole, e o amigo dela. Durante seu tempo na prisão, Simpson foi espancado por um grupo de skinheads racistas. Até onde se sabe (pouca informação tem sido divulgada sobre o incidente ou se até mesmo é verídica), supostamente não pode caminhar, nem falar direito por conta dos danos físicos que sofreu durante esse ataque.
             
Para mim, alguém que estuda antropologia do esporte (entre outras coisas), é interessante pensar na construção e fabricação desses ídolos, quase sempre negros, todos eles muito pobres e como são alçados ao  estrelato da noite para o dia. Poucos resistem, muitos caem, e, parece que o sistema é montado para isso, destruir grandes ídolos num piscar de olhos, quase tão rapidamente quanto os elevou. Pois, afinal das contas, existem tantos lucros na destruição de uma carreira de celebridade quanto na sua construção e assistir homens negros e pobres lutar para suas vidas é algo que atrai plateias pagantes desde os tempos da escravidão.


Wednesday, June 3, 2015

Informações úteis sobre como proteger sua anonimidade on-line e, ao mesmo tempo, deixar os conservadores pasmos



Todos vocês devem ter ouvidos de “onion routinbg”... “devem”, porém, dúvido que a maioria sabe do que estou falando.

Onion routing foi inventado para que os grupos oprimidos podem evitar a censurar. Basicamente, você baixa um programa que instala um “browser” novo em seu computador que pode ser atividao quando você quer (e somente quando você quer – ele não vai se instalar como seu browser normal). Esse comunica automaticamente como uma rede enorme de outros computadores, passando informações quase aleitaoreamente de computador em computador, apagando seus rastros. Quando sua mensagem chega a seu destino, suas origens são quase por completa eliminadas.

O browser onion routing mais famoso chama-se de Tor e ele é gratuito. Foi parcialmente desenvolvido pela CIA, então eu não tentaria usá-lo para tais coisas como a derrubada do governo ou a propagação do terrorismo oua venda de substâncias controladas. Porém, para te providenciar anonimidade no dia-a-dia, ele é perfeito.

Porque instalar um Onion router?

Bom, pensa só, por exemplo, no atual enquete da Câmara dos Deputados (aqui), promovida pela bancada conservadora e preguntando se o Brasil acha que uma família deve ser “uma união entre um homem e mulher”?

Com Tor, você pode votar nessa enquete tantas vezes quanto quiser. É só clicar na icone no browser Tor (uma cebola), no campo superior a esquerda da tela e escolher “new identity” (nova identidade). O sistema da Câmara é tão archaico que você pode votar tantas vezes quanto quiser, simplesmente clicando em “new identity” entre cada votação.

Onion routing e Tor são ferramentas úteis para qualquer ativista na internet. Baixa seu, já!

Infelizmente, tem poucas informações em português sobre “onion routing”. Pode encontrar as informações de Wikipedia em inglês aqui.

Um excelente artigo do ativista para direitos humanos, Scott Long, sobre como Onion routing é importante no atual cenário político mundial pode ser encontrado aqui, em inglês e espanhol.

Informações sobre Tor, em português, podem ser encontradas aqui.

Você pode adquerir seu Tor, de graça, aqui.

Friday, May 22, 2015

Quem são os sodomitas? Uma interpetação bíblica estrita



 

Lendo a Bíblia hoje de manha, particularmente a Gênesis 19:3-4, a história de Ló e Sodoma.

Vocês que me conhecem podem estar estranhando agora. “Tadeu lendo a Bíblia? O que aconteceu? Deu febre?”

Pois sabem, seus incultos e cínicos, que tive uma excelente formação luterana como menino. E diferente de vocês católicos e evangélicos, nós luteranos (os verdadeiros bem-amados de Deus desde de Breitenfeld, 1631 – sei disto porque meu pastor jurou que é a verdade), eu tive que realmente ler a Bíblia.
Além disto, desde criança, sempre tive uma queda por histórias de fantasia que envolvem muito sangue, sexo e sacanagem. Por isto gosto tanto de Game of Thrones (GEORGE R.R. MARTIN. 2013. New York: Random House). E nada, mas nada é melhor neste respeito que o fundador do gênero, na tradição ocidental, a Biblia Sagrada (SAULO DE TARSO, et al. 60. Roma: self-published).

Ademais, tive que l
er a bíblia duas vezes: uma na escola dominical e novamente na cadeia em 1986, quando fiquei presa por algumas semanas em Brevard County, Flórida, após de uma ação direta contra o primeiro lançamento do míssil nuclear Trident II no Cabo Kennedy.

O único livro que era permitido aos presos era a Bíblia. Todos os dias, o Xerife mandou um pastor batista à nossa cela para tentar nós converter do que ele presumia era o mal do comunismo. Uma péssima ideia, quando sua cadeia está cheia de Jesuitas e Quakers que foram presos por acreditar que Deus os instruiu a lutar contra as armas nucleares.... Mas justiça seja feito: o que o tal pastor batista não tinha em termos de conhecimento ou inteligência, tinha em teimosia e fervor. Ele veio todos os dias para o almoço, religiosamente. Era como ver a Guerra dos Trinta Anos irromper-se na minha sala de estar por quatro horas, todo dia, por duas semanas.

No final do processo, cheguei a
duas conclusões firmes:

1) A Bíblia é um espelho: você vê nela o que você tem por dentro de você, em toda sua plenitude sócio-históric
a-psicológica.

2) Ninguém – mas ninguém mesmo – faz insultos passivos-agressivos melhor que os Quakers.

É interessante o que acontece quando você lê a Bíblia usando seu cérebro e o que sabemos da história e
da cultura, em vez de simplesmente regurgitar o que o pastor/padre/guru/líder do culto afirma ser a verdade. E a história de Sodoma é particularmente interessante neste respeito, pois uma leitura atenta a ela demonstra muito ao respeito das verdadeiras preocupações e preconceitos que muita gente tenta justificar com recursos bíblicos.

Para começar, é muito discutível se a cidade de Ló foi destruída por causa da homossexualidade de seus residentes.

Mas antes de chegar neste ponto, vamos d
ar uma olhada no texto em si. Para evitar outro debate de proporções cataclísmicos, estou usando aqui a a versão Católica do texto. (Sim, meus caros cristãos: existem várias traduções da Bíblia, que contém diversas e as vezes contraditórias interpretações das palavras supostamente eternas e imutáveis do Senhor. Se você acha que pode ler a Bíblia LITERALMENTE, então – como diria meus velhos colegas Quakers – você deve dar graças a Deus que Ele não te sobrecarregou com mais que uma suficiência de capacidade mental.)

1. Pela tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Lot, que estava assentado à porta da cidade, ao vê-los, levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra.

2. “Meus Senhores, disse-lhes ele, vinde, peço-vos, para a casa de vosso servo, e passai nela a noite; lavareis os pés, e amanhã cedo continuareis vosso caminho.” “Não, responderam eles, passaremos a noite na praça.”
3. Mas Lot insistiu tanto com eles que acederam e entraram em sua casa. Lot preparou-lhes um banquete, mandou cozer pães sem fermento e eles comeram.
4. Mas, antes que se tivessem deitado, eis que os homens da cidade, os homens de Sodoma, se agruparam em torno da casa, desde os jovens até os velhos, toda a população.
5. E chamaram Lot: “Onde estão, disseram-lhe, os homens que entraram esta noite em tua casa? Conduze-os a nós para que os conheçamos.”
6. Saiu Lot a ter com eles no limiar da casa, fechou a porta atrás de si
7. e disse-lhes: “Suplico-vos, meus irmãos, não cometais este crime.
8. Ouvi: tenho duas filhas que são ainda virgens, eu vo-las trarei, e fazei delas o que quiserdes. Mas não façais nada a estes homens, porque se acolheram à sombra do meu teto.”
9. Eles responderam: “Retira-te daí! – e acrescentaram: Eis um indivíduo que não passa de um estrangeiro no meio de nós e se arvora em juiz! Pois bem, verás como te havemos de tratar pior do que a eles.” E, empurrando Lot com violência, avançaram para quebrar a porta.
10. Mas os dois (viajantes) estenderam a mão e, tomando Lot para dentro de casa, fecharam de novo a porta.
11. E feriram de cegueira os homens que estavam fora, jovens e velhos, que se esforçavam em vão por reencontrar a porta.
12. Os dois homens disseram a Lot: “Tens ainda aqui alguns dos teus? Genros, ou filhos, ou filhas, todos os que são teus parentes na cidade, faze-os sair deste lugar,
13. porque vamos destruir este lugar, visto que o clamor que se eleva dos seus habitantes é enorme diante do Senhor, o qual nos enviou para exterminá-los.”
 

A história é basicamente o seguinte:
 
Dois caras estranhos chegam em Sodoma e Ló os convidam para ficar em sua casa. Uma turba chega na noite e quer violar seus visitantes. Ló defende eles, oferecendo suas duas filhas virgens aos estupradores em troca. Eles não aceitam. Os visitantes, sendo anjos (surprise!), então destroem a cidade, pois Deus ficou zangado.
 


"Meu marido ofereceu nossas filhas para o estupro, mas sou eu que fui transformada num pilar de sal. Precisa de mais provas de como o Deus do Velho Testamento era patriarco?"


O importante entender aqui é que Ló estava agindo de acordo com as regras do bom convívio do judaismo antigo, codificadas no Levítico. Levítico também é um trecho interessante da Bíblia pois é pelo que eu saiba, o único lugar no livro que condena o que muitos cristãos chamam a homossexualidade. Não me fala do Saulo de Tarso e suas cartinhas aos fiéis do Novo Testamento, pois as “abominações” que Saulo fala sobre para os Corintianos, Gregos e Romanos são codificadas em Levítico. Ele está simplesmente tentando levar essas regras de comportamento (e um monte de regas novas que ele, aparentemente, inventou do nada) para os outros povos do mediterrâneo. O fonte original disto tudo é Levítico.

Idem para os “crimes” ou “abominações” dos sodomitas. Quando Ló suplica-se para seus co-cidadãos “não cometais este crime”, ele está referindo ao código criminoso contido em Levítico. Tudo bem, então, neh? Como “conhecer” é código bíblico para “ter relações sexuais com”, podemos ter certeza que o problema aqui é um bando de homens sodomitas queria comer os cus dos anjos hospedados por Ló e, por essa razão, a cidade do Sodoma foi destruída.

Mas será que “homossexualidade” era realmente o crime sendo punido?

Olha só: sei que a maioria cristão não gosta de ler, muito menos ainda a Bíblia, que é um livro divertido, mas também bastante opaco e difícil de entender. Dos poucos que leiam, a vasta maioria não além de uma leitura cuidadosamente guiada por seu pasto/rabino/padre/guru etc. Por isto, talvez, a vasta maioria dos cristãos que odeiam a homossexualidade não são cientes de dois fatos:

1) O Levítico é um enorme compêndio de regras, a vasta maioria das quais – não pode tocar numa mulher menstruada; não pode usar roupas que combinam fibros de duas origens diferentes; não pode comer carne de porco; não pode fazer tatuagens; é preciso ser circuncisado; etc. – são plenamente ignoradas pelo cristianismo.

2) O Levítico não condena a homossexualidade – pelo menos não todos os variantes.

A situação é tão absurda que já vi cristão tatuado e não circuncisado, comendo carrê me dizer que é contra a homossexualidade porque a Bíblia afirma que é uma abominação. É difícil se manter calma frente tamanho asneiras, mas tento seguir o exemplo de meus irmãos Quaker.

O que Levítico de fato fala sobre homossexualidade é isto: "Não te deitarás com homem como com mulher; é abominação". A palavra “homossexual” não existia naqueles tempos, então a proibição não era contra o “homossexualismo”. Além disto, a condenação está claramente falando de relações entre os homens. O Levítico era muito cuidadoso no delineamento dos papeis masculinos e femininos no judaismo e nunca usa “homem” como termo geral indicando todos os seres humanos. Quando fala “homem”, tem um indivíduo em mente: um ser humano que tem pênis e barba (judaismo tradicional, lembre-se?). Então, minimamente, não é a homossexualidade ou “homossexualismo” que está sendo condenado aqui, mas só relações sexuais, e estes somente quando são feitos entre dois homens.

Mas tem mais. O que quer dizer, então “como com mulher”? Aparentemente, pode-se deitar com homens, mas não como se estes fossem mulheres. Algumas pessoas afirmam o óbvio aqui: deitar, não pode, mas sexo anal, oral, ou masturbação mútuo (além de outras variações) pode, desde que esses sejam feitos em pé. Mas a palavra “deitar” aqui indica uma série de relações de gênero que eram codificados no ato sexual no Israel antigo. Significa possuir a mulher (enquanto posse, mesmo: sim, como sua propriedade – patriarcado, lembre-se?) através do ato sexual. Em outras palavras, na sexualidade judaica antiga, a virgindade era entendida como selo de garantia: uma vez quebrada, o quebrador era responsavel para a mercadoria. Não importava-se como a virgindade era “tomada”: relações consensuais, sedução, estupro... Comeu, comprou. Além disto, a posição sexual da mulher como “deitada” não era por acaso: a mulher judaica era para ser absolutamente submissiva ao homem, particularmente em questões sexuais. Seu prazer, seus gostos e desejos, não eram importantes no relacionamento: importante era sua submissão frente a seu marido, seu senhor.
A história de Ló é um exemplo excelente disto: sendo patriarco, ele pode oferecer suas duas filhas para serem estupradas por uma turba raivosa, sem piscar os olhos. Ló, os anjos e – aparentemente Deus – não tem problema algum com isto e a Bíblia nem fala como foiu a reação das filhas de Ló a sua oferta. Mulher não contava naqueles tempos. Ponto.

É claro, elas conseguiram encontrar uma maneira de devolver o "favor" mais tarde...

O que tudo isto indica é que Levítico condena a
ideia de que um homem pode transformar outro homem em, essencialmente, um escravo submisso através das relações sexuais. Nesta interpretação de Levítico – que é absolutamente tão válida em termos de suas origens quanto as interpretações evangélicas de hoje – o que está sendo proibido são as relações de submissão e dominação sexual entre os homens.

Ou seja, gente: troca-troca, pode e deve. O que Deus não gosta é que você come o cú dos outros sem oferecer seu.




E todos esses anos, não estavamos entendendo bem a verdadeira mensagem de certas congregações batistas.


Sendo que, hoje em dia, ninguém nem deita com mulher “como com mulher”, no sentido Leviticano da palavra, acho melhor e mais correto,
corrigindo a Bíblia pelas mudanças culturais dos últimos séculos, entender Levítico 18:22 da seguinte maneira: “Não usaras o sexo para subordinar outro humano: isto é uma abominação”.

E se vocês acham que não tenho a autoridade de re-interpretar o Levítico assim, eu te digo que tenho a mesma autoridade que Saulo de Tarso
tinha. Deus também me apareceu, num enorme luz (e falando nos tons de um elder Quaker), me dizendo “Thaddeus, esses pobre-coitados, mentalmente limitados, que se dizem cristãos não entenderam balofas de minha mensagem principal aos humanos: trata o próximo como você quer ser tratado (a menos que você é masoquista, é claro). Vai e leva minha palavra às massas.”

Pronto. Veio diretamente do Senhor. Viu como é fácil?


Voltando ao Levítico (e depois vamos voltar ao Ló, que deixamos lá na porta, oferecendo suas duas filhas para serem estupradas), é notável que a palavra hebraica original, referenciada em 18:22, nem é “crime” e muito menos “abominação”: é
to'ebah, que quer dizer “algo que quebra uma lei ritual”. Isto situa a homossexualidade, no máximo, no mesmo patamar com o consumo de porco ou raspando sua barba – para não mencionar os 362 OUTRAS proíbições da lei talmúdica que os cristões ignoram sem o menor problema. Se os velhos hebraicos queriam dizer que a homossexualidade era uma “abominação”, uma violação moral, ou um pecado, eles tinham uma palavra apropriada para essa tarefa: zimah.Os cristãos modernos traduzem to'ebah como abominação quase exclusivamente em conexão com a homossexualidade por causa de suas traduções erradas das palavras de nosso bom e velho amigo Saulo de Tarsos. Saulo usou as palavras gregas malakoi and arsenokoitai para condenar os crimes sexuais em Corintianos 6:9 e Romanos 1:28. Mas, infelizmente (para os homofóbicos), essas palavras também não referem-se a homossexualidade. Novamente, se o Saulo queria, de fato, condenar a prática de um homem ter relações sexuais com um outro, ele tinha uma palavra apropriada para essas fins: paiderasste.

Saulo, famosamente, não gostava do sexo e achava que era melhor ser virgem. Sendo isto impossível, a segunda opção seria um casamento monogâmico. De onde Saulo tirou essas idéias não é bem claro, pois certamente nada no judaismo autorizo o nojo com qual ele encarava o ato sexual. A meu ver, estamos lidando aqui com um problema psicológico do próprio Saulo que foi, erroneamente, traduzido para o dogma cristão séculos após de sua morte.

Mas, mesmo aceitando Saulo como uma figura mais importante que o próprio Jesus em termos de suas capcidades de ditar as regras do bom convívio cristão, é importante entender que ele não era contra a homossexualidade, em se, mas sim contra tudo e qualquer tipo de atividade sexual, particularmente se o fim disto era o prazer. Todo prazer carnal, de acordo com Saulo, se afastava do Senhor. Novamente, é dificil aceitar um cristão gordo tatuado e sem barba, comendo seu quinto cachorro quente enquando se veste uma camiseta de poliester e algodão, me dizer que o Levítico e Saulo autorizam ele a condenar homossexualidade como “abominação”. 


Esse cara, por exemplo, obviamente leva suas proibições biblicas muito a sério.

 
Voltando ao Ló, então, e sua oferta gentilíssima de suas filhas à turba de estupradores, podemos dizer com certo grau de certeza que o problema aqui, em termos do ponto de visto de Deus, não era a homossexualidade (porque o Ló ofereceria suas filhas ao estupro para uma banda de homossexuais?) O que, então, fizeram os habitantes de Sodoma para merecer o extermínio?
Bom, isto é razoavelmente claro. O grande pecado do povo de Sodoma foi seu atitude arrogante e sua rejeição da noção de que eles deviam respeito ou dignidade ao resto da humanidade.

Além de tentar estuprar dois homens (sujeitar eles à dominação como se fossem mulheres – nota bem, novamente, que ninguém tinha qualquer problema com a idéia do estupro das filhas de Ló) cujo único “crime” era ser estrangeiros que entraram na cidade, o povo de Sodoma era notório por achar que eles eram os melhores humanos da terra e, dessa maneira, não devia caridade ao próximo, como pregava a lei talmúdica.

A cidade é referenciada múltiplas vezes na Bíblia e sempre em referência a este problema: nunca em referência à homossexcualidade. Olha só, por exemplo, a Ezequiel 16:49, que não podia ser mais claro:

E esta foi a malignidade de tua irmã Sodoma: ela e suas filhas eram arrogantes; tiveram fartura de alimento e viviam sem a menor preocupação; não ajudavam os pobres e os necessitados.

O pecado dos sodomitas era ser arrogante e desprezar seus deveres, tanto aos disafortunados quanto aos estrangeiros que passavam por sua cidade. E isto é extremamente claro numa das únicas duas falas que os sodomitas direcionam a Ló (que não era nativo da cidade):

Eis um indivíduo que não passa de um estrangeiro no meio de nós e se arvora em juiz! Pois bem, verás como te havemos de tratar pior do que a eles.”

E é por ali que comecei essa diversão bíblica hoje de manha, pois acho irônico que é justamente a extrema direita cristã que condena tanto a “sodomia”, mas que prática a exclusão social de todos os tipos e hoje, nos EUA e no Brasil, reluta para o “direito” de tratar as pessoas que não gostam como menos que cidadãos ou seres humanos.

Essa frase soltou aos meus olhos hoje, sendo que recentemente argumentei com vários “bons cristãos” brasileiros que tem me direcionado exatamente essa mesma fala: quem sou eu, gringo, para ter uma opinião sobre tais assuntos brasileiros como
, por exemplo, a descriminalização do aborto e das drogas ou a diminuição da maioridade penal?

E lembrei, particularmente, desse pequeno peido solto pela boca de M. Feliciano (que é quase tão bom no quesito “agressão passiva” quanto meus antigos mentores Quaker) que, essencialmente, afirma a mesma coisa para com meu amigo Professor Richard Parker.
Sendo que tenho um senso de humor bem mais negro que o de meus antigos colegas de cela jesuitas e Quaker, me divirto quando observo que esses cristãos, que supostamente levem a Bíblia tão a sério, acham necessário repetir o pecado de Sodoma numa escala jamais imaginada pelos residentes daquela cidade. Redução da maioridade penal, pena de morte para traficantes, prisão para as mulheres que abortam, espancamento e exclusão de prostitutas, o fechamento das fronteiras contra os estrangeiros, a carceralização da sociedade, a militarização da polícia, para não dizer a perseguição dos LGBTs.... todas essas atitudes são, propriamente falando, taxáveis de “sodomia”, neh?

Me pergunto como essas pessoas “du bem”, que se dizem ser guiadas pela Bíblia, podem pensam que uma sociedade pode prosperar desse jeito?

Friday, April 10, 2015

Ô, Mané...


Monday, February 2, 2015

Macacos me mordem: orangutangos são traficados para a prostituição


Ouvimos desse caso hoje: aparentemente, orangutangos estão sendo forçados a se prostituir na Ásia.

Sempre atentos a necessidade de conscientizar o público brasileiro sobre o crime horrendo do tráfico, fizemos o seguinte cartaz.

Paulo Abrão, esperamos seu contato.