por Ana Paula da Silva, autora de Pelé e o Complexo de Vira-Latas: Discursos sobre raça e modernidade no Brasil
O.J. Simpson no filme Firepower, ca. 1979.
Essa semana
terminei de assistir a série “O
povo contra O. J. Simpson”. Admito ter tido
certo preconceito em
acompanhar o seriado. Comecei acompanhando na casa de uma amiga que já
tinha ouvido falar sobre o seriado e terminei fascinada em minha própria casa. Por causa de minha pouca interação
com o que está na moda, acabei não me dando conta desse show e fiquei ainda
mais com o pé atrás, quando soube que foi indicado para diversos prêmios e
ganhou muitos desses.
O elenco
também não me animava: todos oriundos de blockbusters com exceção de
alguns que, confesso, realmente gosto. É preciso dizer que eu estava muito
enganada. O seriado me fez pensar profundamente numa palavra que se tornou
moda, mas que tem sido mal utilizada por parte de diversas militâncias brasileiras:
a interseccionalidade.
Esse conceito surgiu (pelo
menos formalmente) com a
filósofa de direito e teórica crítica de raça, Kimberlé Crenshaw. Hoje em dia caiu na
“boca do povo”, como diria
minha avó. Como estudiosa do tema, entendo como é difícil e árduo o
caminho para se fazer, de fato, uma análise interseccional. Acredito que essa
categoria se compõe num desafio permanente de reflexão e análise de um dado
fenômeno social. Acredito, que, quem acha ser esse um conceito fácil – um tipo
de análise simples pela “soma
das desgraças”, vamos dizer – geralmente cai numa armadilha onde o que
se prova é a prevalência de uma ou outra categoria de análise para explicar a
realidade social.
Quando
terminei a série, procurei artigos críticos sobre os episódios e percebi que a
maioria desses sempre destacou somente uma categoria para explicar o caso O. J.
Simpson. Ou era raça, ou gênero, mas nunca uma reflexão sobre a complexidade de
uma sociedade estruturada em torno de inúmeros eixos de identidade,
preconceitos, e desigualdades que cria meandros sutis de discriminação e
exclusão.
Optar por
trabalhar pelo viés teórico da interseccionalidade é fazer escolhas em que a
vida social não se reduz a apenas uma categoria explicativa. É pensar nos
desafios criados pelas intersecções de categorias sociais e quais os seus
efeitos reais dessas na vida como ela é vivida.
Para quem
está lendo e não sabe o que é interseccionalidade, peço desculpas. Não sou a
pessoa mais indicada para explicar, pois considero que continuo aprendendo e me
desafiando em torno de ideias que, era uma vez certas, dados os meus estudos em
gênero, sexualidade e raça. Tentarei definir, em poucas linhas, o que significa
interseccionalidade, correndo certo risco de simplificar o conceito ao ponto de
o transformar numa paródia de si. Em alguns contextos, é o estudo de como categorias
de identidade se interagem para criar e/ou fazer desaparecer certas subjetividades.
Um exemplo disto seria o artigo em que Creshaw
cunhou o termo, onde ela
o aplica a um caso
específico que estudava na época: ao de mulheres negras que diziam ter sofrido discriminação por
não serem empregadas em certos
cargos na empresa em que trabalhavam. A empresa
alegou que não era racista, porque tinha homens negros trabalhando nesses cargos. Tampouco poderia ser considerada
machista, porque empregava mulheres brancas nessas posições também. Era
de fato, a combinação de negritude e feminilidade que excluía as mulheres
negras dos postos, mas a lei só contemplava ações anti-racistas ou
anti-sexistas. A empresa, portanto, ganhou frente ao tribunal.
Creshaw inventou o termo “interseccionalidade” justamente para
rotular esse tipo de interação de categorias sociais, que fazem surgir ou
desaparecer subjetividades. Ela salienta que casos como esses não podiam ser
entendidos através de apenas uma categoria, mas só pela conjunção que o termo “mulher negra” evocava. A
ligação entre machismo e racismo produzia outra situação, não menos desigual
paras as mulheres negras, mas impossível de ser abordada utilizando uma só
categoria social.
Sendo mulher e negra, estou
numa condição diferente
de um homem negro, por exemplo, ou de uma mulher branca. A mulher negra, nesse
caso, é mais oprimida? Não
necessariamente. No caso do Brasil e dos EUA, as mulheres negras estão em
melhor condição do que os homens negros em várias categorias de análise,
começando com a expectativa de vida. Os homens negros também têm menos
escolaridade e maior índice de mortalidade violenta que as mulheres negras. Todavia,
quando um homem negro vence todos esses obstáculos e disputa uma vaga de
emprego com uma mulher negra, é bem possível que ele ganhe essa, não importando
as qualidades profissionais da mulher, só pelo fato de ser homem. Intersccionalidade não é
fácil de se entender – particularmente por militantes de movimentos
historicamente viciados em vieses deterministas e reducionistas de explicação
da realidade social – mas a teoria explica muito sobre as desigualdades que as
sociedades capitalistas produzem nos dias atuais.
Voltando ao
caso O. J. Simpson, para quem não estava viva e raciocinando na década de 90, (ou,
para pessoas como eu, nada interessados nos fatos), era entendido por muita
gente como o julgamento do século. Interessante como a não-presença das mídias
sociais (ainda não inventadas nessa época) fizeram de um caso monumental como
esses algo que as pessoas – pelo menos no Brasil – nem sequer ouviram notícias.
A pessoa em questão, O. J. Simpson, é atleta aposentado, famoso e venerado no
futebol americano (sim, aquele esporte que, ultimamente tem feito sucesso no
Brasil). Negro, de origem humilde (essa parece ser a história de grandes ídolos
de esportes nacionais, seja aqui, na Europa ou em Love-it-or-leave-it Land),
chegou a acumular uma das grandes fortunas esportivas dos EUA.
Em 1994, porém, Simpson foi levado a julgamento por suspeita de matar a ex-mulher e seu amigo de forma brutal e cruel. O casamento de Simpson com sua ex-, Nicole, foi bastante conturbado, com históricos de abusos físicos e psicológicos por parte de Simpson a sua esposa, com muitas ocorrências de violência doméstica e múltiplas chamadas de Nicole para o famoso disque-denúncia EUAmericana, 911. Todo esse material foi utilizado de forma sensacionalista pela imprensa, que teve seu reality show jurídico patrocinado pelo acesso de câmeras ligadas 24 horas da sala do tribunal.
Em 1994, porém, Simpson foi levado a julgamento por suspeita de matar a ex-mulher e seu amigo de forma brutal e cruel. O casamento de Simpson com sua ex-, Nicole, foi bastante conturbado, com históricos de abusos físicos e psicológicos por parte de Simpson a sua esposa, com muitas ocorrências de violência doméstica e múltiplas chamadas de Nicole para o famoso disque-denúncia EUAmericana, 911. Todo esse material foi utilizado de forma sensacionalista pela imprensa, que teve seu reality show jurídico patrocinado pelo acesso de câmeras ligadas 24 horas da sala do tribunal.
Simpson, menino-propaganda na auge de sua carreira. |
Todas as
pessoas em questão foram defenestradas: procurava-se podres de todos os
envolvidos. Se você conhecia alguma daquelas pessoas que apareciam na TV
durante o julgamento, foi a hora de tirar o pé do lodo e vender qualquer
história ou desavença possível sobre elas.
A acusação
acreditou piamente que as evidências do crime eram tão cabais e incontestáveis
que era impossível não condenar o grande astro do esporte. Não levaram em
conta, porém, o contexto e a representatividade daquele julgamento num momento
sensível para os EUA e, particularmente, para Los Angeles, cidade onde o
julgamento ocorre. Dois anos antes, L.A. sofreu um dos maiores tumultos raciais
do Século XX, provocado pelo espancamento brutal do motorista negro Rodney King
pela polícia municipal. Levar ao banco dos réus um homem negro, bem-sucedido,
ídolo máximo nacional, e condená-lo passou a ser encarado, principalmente pela
comunidade negra, como a prova cabal
daquilo que muitos já sabiam:
os EUA é um país
racista que considerava a população negra como menos-que-humana e, portanto,
destituídos das proteções básicas concedidas pela lei a pela Constituição. Ou
seja, o caso Simpson prometia ser uma ferida aberta numa nação escravocrata
que, mesmo após a abolição, manteve um regime
de segregação racial legal e oficial em 13 estados (e extra-oficial em quase
todos os outros).
Cuba Gooding como Simpson, fugindo da polícia. |
Consequentemente,
muitas pessoas entendiam que o caso Simpson era mais um exemplo de um racismo institucionalizado,
que comprovava que nem um milionário e celebridade negra poderia escapar do
linchamento legal que os negros conheciam, de perto, nos tribunais de todo o
país. Homens negros, por diversas vezes inocentes, ou que tinham praticado
crimes menores, costumavam ser julgados como grandes criminosos, lotando a
carceragem e os corredores da morte pelo país afora. Para você ter uma ideia de
como é forte a institucionalização racial do sistema penitenciário americano,
saiba que 36% dos presidiários nos EUA são negros, enquanto negros são tão
somente 10-12% da população geral. Nem o Brasil tem índices de encarceramento
tão racialmente injustas (embora estamos fazendo tudo para ficar a par com
nossos primos americanos e até, em alguns casos (assassinatos extra-judiciais
feitos por policiais) ultrapassá-los).
É nesse
ponto que o nosso conceito chave de interseccionalidade entra no jogo.
De um lado
a acusação contra Simpson foi composta por uma promotora pública, Marcia Clark: uma das mais brilhantes, com currículo bem-sucedido. Ela foi assessorada
nisto por um assistente da promotoria, homem negro em franca ascensão na
carreira: Christopher Darden. Do
lado da defesa, constituiu-se um “dream team” (e é interessante notar aqui como a noção do
esporte foi utilizada como estratégia de marketing para a defesa de O. J.
Simpson) de advogados que incluía alguns dos nomes mais conceituados na época. No entanto, o
mais notório dos advogados de defesa de Simpson foi Johnnie Cochran, negro militante, ligado aos
movimentos populares, que viu na oportunidade de defender um grande astro negro
a possibilidade de denunciar um sistema historicamente racista e excludente.
Não importavam os fatos, a história que Cochran buscava narrar era pôr em
evidência toda a trama racial desigual sofrida pelos afro-descendentes americanos desde a formação
da nação.
O
interessante da série de televisão que retrata esse caso é que foge dos
estereótipos batidos de mocinho e vilão,
procurando construir uma narrativa dos interesses em jogo de cada personagem.
Enquanto O. J. Simpson procurava se livrar da cadeia, cada um dos envolvidos também
tinha um interesse específico no caso. A série focaliza na “desconstrução” da figura moral de Marcia Clark, que, segundo a
imprensa e de boa parte da opinião pública, não era digna de ter uma responsabilidade tão grande no julgamento. Clark foi desqualificada de todas as formas possíveis, mas
principalmente pelo fato de
ser mulher. “Louca”, “vadia”, “durona” e “devassa” foram apenas alguns dos xingamentos utilizados
para publicamente atacá-la
durante o caso. Para
piorar a situação, fotos de Clark fazendo topless numa praia foram divulgadas
pelo seu ex- marido na grande
imprensa americana.
No entanto,
outros personagens envolvidos no caso não foram menos poupados. Darden foi
massacrado pela comunidade negra por estar do “lado errado“ do caso. Os
advogados de O. J. Simpson tiveram suas vidas devassadas pelas revistas de
fofocas. E o próprio ”Juice” (como Simpson era carinhosamente
apelidado) teve todas as suas brigas conjugais e agressões domésticas reveladas aos olhos públicos pela
imprensa. Marcia Clark foi, talvez, a que mais sofreu. Por ser a única mulher divorciada
envolvida no caso, teve toda a sua moral sexual posta à prova. Não quero aqui,
iniciar um “desgraçobol” (termo de Sérgio Carrara), para saber se mulher sofre
mais que negro e etc. etc. etc., Aliás, o grande erro das análises que ando lendo
sobre a série, particularmente as advindas de militantes, cai precisamente
nessa armadilha.
Esse é o
grande desafio que nos encara, sejamos militantes ou cientistas sociais
críticos de sistemas institucionalizados de reprodução das desigualdades: entender
como classe, gênero e raça,
atuam de forma interligada na produção de exclusões e privilégios. O que é
importante pensar no caso Simpson é como a desigualdade social é criada por víeis
múltiplos e reforçantes numa sociedade que foi culturalmente e socialmente
montada no padrão da Casa Grande e Senzala, e que sempre foi patriarcal
e escravocrata, assim como Brasil ou os EUA. Tenho sempre dito, e algumas vezes
escrito, que a experiência colonial americana não difere tanto assim da
brasileira – que, por sua vez, não difere dás Américas. Mutatis mutandis,
o padrão racista e sexista não produziu muitas diferenças radicais na extensão
das terras colonizadas pela Europa durante os Séculos XVI-XVII. É mais uma
questão de ênfase nesse ou naquele aspecto do que modelos completamente
diferentes. Como meu parceiro gosta de afirmar: “É tudo, tipo, caixinha de
bloquinhos Lego: pode construir barquinho, ou castelo ou trenzinho, mas quando
você olha bem de perto, 'tá
tudo feito com os mesmos bloquinhos de merda”.
A noção de
um homem branco dominador,
sábio, todo-poderoso e benévolo (ou absolutamente brutal; as duas
características são, de fato, duas faces da mesma moeda) que manda em tudo e em
todos é o modelo-mor de
autoridade numa sociedade que se perpetua pós-abolição em toda parte das
Américas onde a escravidão foi instituída. Isto é, justamente, o contexto mais
profundo – diga-se de raiz – que precisa ser entendido no seriado O. J. Simpson.
Toda essa estrutura quiriarcal está lá sendo reproduzida nas discussões sobre a
culpabilidade do grande astro, a forma como a polícia tratou o caso, a maneira
como Marcia Clark é desqualificada (a sinhazinha que se mete onde não é
chamada), o negro da Casa-
Grande, o negro que defende a Senzala, o bom branco que denuncia o racismo da sociedade
americana, e – como sempre
acontece, no caso do racismo estadunidense – os “lixos brancos” brutos e
incultos, abertamente racistas, que são o bode expiatório preferido do racismo
liberal/institucional. Essa figura aparecia na pessoa do policial Mark Fuhrman,
acusado de empregar epítetos raciais e de plantar evidências falsas
incriminatórias contra Simpson
(ironicamente, Fuhrman seria o único condenado do caso – hoje faz carreira na
Fox News).
A série não
é uma volta ao passado, ou apenas um testamento de que nada mudou desde os tempos coloniais (muita coisa, de fato, mudou): ela é uma exploração íntima
do “caso do século” que
vai muito além da análise uniaxial das categorias raça e gênero, geralmente
utilizada para entender o caso Simpson.
Para o telespectador atento, O Povo Contra O.J. Simpson oferece
uma aula introdutória em análise interseccional e como isto pode ser aplicado
ao mundo real.
No último
episódio, um diálogo maravilhoso (mas provavelmente fictício) entre os
advogados negros (Darden e Cochan) ilustra outra categoria importante na
análise dos fatos, que geralmente é ignorada pelos proponentes de análises
uniaxiais do caso: a classe.
Num último momento, Cochan chama Darden e lhe faz uma proposta de
colaboração. Darden recusa e afirma que o grande objetivo de homens como
Cochan, de absolver negros como o
“Juice”, era a manutenção
de sua própria casta rica e bem-sucedida, que tinha a garantia implícita que os
negros ricos não pudessem ser tratados como um “negro qualquer”. Os negros pobres e dos guetos
continuariam a ser mortos e presos pela polícia, sem nenhum critério,
independente, da absolvição de O. J. Simpson. Darden explica que a suposta
preocupação de Cochran com a justiça racial, de fato, acaba reforçando a
injustiça de classe que, nesse momento da história americana, começava a
desunir a aliança negra que conseguia as vitórias das décadas de '60-'70.
Após desse diálogo, corta-se imediatamente
para uma cena onde Cochan comemora a vitória da absolvição do Simpson com sua
equipe e o Presidente Bill Clinton reconhece, em rede nacional, que o racismo é
um problema sério na sociedade americana. No entanto, essa cena é emblemática,
pois o governo Clinton foi o que mais endureceu as leis de encarceramento e
colocou milhões de negros, não-brancos, e pobres na cadeia. Em 2016, o
movimento “Black
Lives Matter”, que
surgiu das denúncias de
abusos policiais, compareceria num comício de campanha da então-candidata
Hillary Clinton, pedindo a retratação das leis instituídas no governo de seu
marido que criavam o encarceramento em massa das populações não-brancas.
Na cena,
Cochan, regozija-se da vitória, afirmando ter atingido e colocado na boca do
Presidente da República a palavra “racismo”. Mas o que isso efetivamente mudou nos EUA? É uma reflexão sutil, porém
dolorosa, dentro de uma parcela dos movimentos negros da classe média e da
elite, de que muitas vezes suas lutas não são as mesmas que a dos pobres. Esses
últimos lutam para simplesmente sobreviver, enquanto os primeiros lutam para conquistar posições cada vez mais poderosas numa sociedade racista, com a promessa de que, uma vez que
eles alcançam o poder, tudo vai mudar (vide Barack Obama). Ambas essas
aspirações são, de fato, legítimas. Ou que não são, necessariamente, é compatível
ou reduzível uma a outra. Enfim, como aquele velho hippie Karl Marx nos alertou
mais de 150 anos atrás, grupos sociais diferentes tendem a ter objetivos e
interesses diferentes, de acordo com as diferenças em suas condições materiais
de vida. Muitas vezes, os mesmos negros bem-sucedidos esquecem desse fato,
aplicando uma “política da respeitabilidade” à comunidade negra como forma de criar distanciamento e, assim, distinção
e status social.
Falando em termos de gênero,
Márcia Clark não teve seu trabalho reconhecido. Largou a promotoria, passou a prestar
consultoria, e a escrever romances, atividade no que obteve certo reconhecimento. No entanto, nenhuma autoridade política americana foi para TV reconhecer frente
a nação as desigualdades de gênero, ou admitir que Clark foi massacrada ao
longo do julgamento. Tudo muito natural para alguém que nasceu mulher. Nada
mudou na forma como mulheres são vistas ainda hoje, fato que podemos reconhecer
na última eleição presidencial americana, onde a candidata mulher teve todo seu
passado sexual revirado enquanto seu oponente homem, que admitiu ser agressor
sexual, não sofreu efeitos negativos significantes, nas urnas, por seu
comportamento sexual abusivo.
Por último,
quem sofreu uma degradação sem precedentes foi O. J. Simpson. (Aliás, é quase certo
que realmente cometeu os crimes. Ele escreveu um livro em que descrevia como
teria sido a cronologia do crime, caso tivesse matado a sua ex-esposa e o
amigo.), “Juice” ganhou no processo criminal, mas
não escapou a condenação civil. Teve todos os seus bens penhorados, perdeu sua
fortuna e, em 2008, foi
preso, acusado de roubo e cárcere privado por tentar recuperar relíquias de sua
coleção pessoal, negociadas a um grande hotel-cassino em Las Vegas. Foi
condenado a 33 anos de prisão, mas
entrará com pedido de condicional esse ano, 2017. O triste da história é que,
Juice, foi condenado criminalmente por atacar a propriedade privada, mas nunca,
pelas mortes de sua ex-mulher, Nicole, e o amigo dela. Durante seu tempo na prisão, Simpson foi espancado por um grupo de skinheads racistas. Até onde se sabe
(pouca informação tem sido divulgada sobre o incidente ou se até mesmo é verídica), supostamente
não pode caminhar, nem falar direito por conta dos danos físicos que sofreu
durante esse ataque.
Para mim, alguém
que estuda antropologia do esporte (entre outras coisas), é interessante pensar
na construção e fabricação desses ídolos, quase sempre negros, todos eles muito
pobres e como são alçados ao estrelato
da noite para o dia. Poucos resistem, muitos caem, e, parece que o sistema é
montado para isso, destruir grandes ídolos num piscar de olhos, quase tão
rapidamente quanto os elevou. Pois, afinal das contas, existem tantos lucros na
destruição de uma carreira de celebridade quanto na sua construção e assistir
homens negros e pobres lutar para suas vidas é algo que atrai plateias pagantes
desde os tempos da escravidão.